quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A identidade comercial de Lisboa

O Natal tem várias virtudes. Entre as quais, a de nos trazer memórias do passado. Pretendo aqui recordar os hábitos comerciais que se foram perdendo em Lisboa e com eles uma certa identidade comercial da cidade.

Durante muitos anos, fazer compras em Lisboa significava uma ida à Baixa ou ao Chiado. Mais tarde, Campo de Ourique, Almirante Reis, Alvalade, entre outros juntaram-se como zonas comerciais na cidade, significando uma complementaridade aos primeiros. Esta foi, durante décadas, a realidade comercial que se renovava, adaptava aos gostos e à procura dos lisboetas.

Nas décadas mais recentes, o aparecimento dos primeiros centros comerciais, e com eles as grandes marcas mundiais, começou por trazer modernidade ao comércio complementando o comércio mais tradicional de bairro.

Mas a proliferação desses centros comerciais e a ausência de modernização do comércio tradicional acabaram por provocar graves desequilíbrios no funcionamento do comércio em Lisboa.

Se a actual crise económica pode significar o agravamento da crise no comércio tradicional, as causas dessa decadência são outras e anteriores a esta crise.

Lisboa não cuidou de garantir o equilíbrio entre o comércio tradicional e os grandes centros comerciais. Os vários responsáveis não foram capazes, ou não quiseram restringir a proliferação das grandes superfícies comerciais e não promoveram o comércio tradicional.

O comércio tradicional e de bairro é uma parte determinante para a própria vivência de bairro, para o equilíbrio da organização urbana do ponto de vista da segurança, mobilidade, emprego e até do ponto de vista social.

O comércio é parte da identidade de Lisboa. A sua perda significa o empobrecimento da cidade do ponto de vista cultural mas também económico e social.

Lisboa precisa de recuperar a aposta no comércio tradicional como veículo para a recuperação do equilíbrio, dinamismo e competitividade da cidade. texto publicado na edição de Fevereiro do Jornal de Lisboa.


texto publicado na edição de Fevereiro do Jornal de Lisboa

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