quinta-feira, 12 de março de 2009

Tiros em Lisboa são problemas de Lisboa

Os conflitos sociais e raciais a que os lisboetas assistiam pelas televisões nos bairros de concelhos limítrofes parecem ter entrado dentro de Lisboa. As cenas de tiros e desacatos deste fim-de-semana no bairro Portugal Novo, nas Olaias, em pleno centro de Lisboa, são idênticas às observadas noutros bairros da periferia de Lisboa.

Os que até agora eram os problemas “dos outros” passaram agora a ser problemas de quem vive em Lisboa. Passaram a ser também problemas de Lisboa.

É neste contexto que se tornam surpreendentes as declarações do presidente da Câmara Municipal de Lisboa que afirmou nada ter que ver com aquela questão. Para António Costa “aquilo” é um problema de polícia, não é um problema do presidente da câmara…

Como é possível!? É impensável que um presidente da câmara de Lisboa considere que algum problema que se passe em Lisboa não seja um problema seu. Neste caso foram lisboetas que andaram aos tiros. Não serão estes problemas de Lisboa?! Agora que passaram para dentro da cidade há quem não os queira enfrentar. É seguramente mais fácil fazer de conta que não é nada connosco.

E ainda que seja também (mas não só) uma questão de polícia, que papel pode ter a polícia municipal? Claro que é mais fácil apontar culpas ao governo. Conveniente, até para fazer de conta que se bate o pé ao governo.

Na noite em que se verificaram os confrontos no bairro Portugal Novo em Lisboa e no dia que se seguiu, os moradores, em grande maioria alheios aos desacatos, não sentiram o apoio do presidente da câmara, nem tão pouco de qualquer vereador. Apenas do presidente da junta de freguesia. Assim se vê como cada um encara as suas responsabilidades.


texto publicado no jornal Meia Hora

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