sexta-feira, 17 de junho de 2016

Obras irresponsáveis em Lisboa

As obras que decorrem em Lisboa, bem como as já anunciadas, têm sido alvo de ampla discussão pública. As soluções e o calendário têm sido discutidos. No entanto, a irresponsabilidade que significa não aproveitar as intervenções para modernizar as infra-estruturas existentes no subsolo tem sido omitida.

A primeira preocupação foi quanto às opções para cada intervenção: a diminuição de faixas de rodagem, a substituição de calçada, a subtracção de lugares de estacionamento, as árvores, entre outras questões.

Para além da controvérsia sobre as opções tomadas, parece ser quase consensual que o erro reside sobretudo na oportunidade, ou melhor, no oportunismo do calendário das obras previstas. Hoje parece claro que o lançamento das várias intervenções nos eixos rodoviários da cidade obedece a uma programação com objectivos eleitorais com total sacrifício de um planeamento faseado que limite ao mínimo os transtornos enquanto as obras decorrem.

Vale a pena sublinhar que nenhum planeamento cujo objectivo fosse minimizar o transtorno que as obras sempre acarretam aconselharia o decurso de obras em simultâneo nos principais eixos viários da cidade como se irão verificar na segunda circular, em todo o eixo central e na zona ribeirinha. Trata-se de um planeamento que tem por único objectivo acabar as obras a tempo das eleições autárquicas.

No entanto, esta pressa em concluir tantas obras em simultâneo, para além do prejuízo imediato para o dia-a-dia dos lisboetas enquanto estas decorrem, tem outra consequência mais grave, porque terá efeitos a prazo, que é a de ignorar a necessidade e a oportunidade de modernizar integralmente as infra-estruturas existentes no subsolo, bem como enterrar as que se encontram hoje instaladas à superfície ou nas fachadas dos prédios.

As obras previstas ou a decorrer são de duração relativamente breve para a extensão ou importância das áreas que abrangem. Na zona ribeirinha, um ano, na segunda circular, 11 meses, no eixo central, 9 meses e em Sete Rios, 6 meses. Nestes prazos apenas intervenções cosméticas serão possíveis.
Nas zonas alvo destas intervenções não teremos infra-estruturas de subsolo devidamente modernizadas nem teremos aproveitado a oportunidade para ordenar as caixas dos operadores de telecomunicações que se multiplicam à superfície ou os cabos que se acumulam nas fachadas dos prédios. Porque demoraria mais tempo. Porque resolver estes problemas não era compatível com o calendário eleitoral definido.

No final destas obras teremos zonas esteticamente renovadas. Poderemos ter até algumas destas áreas mais agradáveis para os peões. Mas não teremos resolvido problemas estruturais, nem de infra-estruturas, nem de funcionalidade da cidade com o trânsito e com o estacionamento na cidade. Terá sido uma oportunidade perdida.



António Prôa
Vereador na Câmara Municipal de Lisboa





(publicado no jornal Oje)

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