sexta-feira, 3 de junho de 2016

As árvores que incomodam na cidade

Quantas vezes ficamos incomodados com as árvores que mancham os carros, tornam a calçada escorregadia ou com as sementes que lançam no ar?

Na verdade, as árvores não têm culpa. A responsabilidade é de quem planta as árvores de forma desajustada quer nos locais, quer nas espécies que são escolhidas.

Em Lisboa, são muitos os exemplos de espécies colocadas sem ter atenção ao local em que são plantadas originando transtornos que geram repulsa às árvores.

As árvores nas zonas urbanizadas desempenham funções muito importantes que muitas vezes passam despercebidas ou por desconhecimento ou pelo facto de provocarem transtornos apenas por serem da espécie errada no local errado.

Quando se sente mais o calor, damos conta do conforto da sombra de uma árvore, mas as árvores representam muito mais do que “apenas” a sombra.

Nos parques e jardins mas também nas ruas de uma cidade, as árvores contribuem para o conforto e valorização do espaço urbano protegendo da exposição aos raios solares, diminuindo a temperatura ambiente, aumentando a humidade do ar, protegendo do vento, mas também embelezando os locais onde se encontram.

As árvores nas cidades têm ainda um papel determinante na qualidade ambiental, absorvendo dióxido de carbono, libertando oxigénio, absorvendo poluentes em suspensão, reduzindo o ruído, favorecendo o aumento da infiltração da água no solo, concorrendo para a diminuição do consumo energético das habitações em volta, para além de promoverem a biodiversidade ao abrigarem e servirem de alimento a diversas espécies animais.

A importância das árvores nas cidades é inequívoca. Cabe aos responsáveis pela gestão do espaço público fazer uma escolha adequada das espécies e locais em que as árvores são plantadas.

Não basta olhar ao aspecto estético. Importa prever as consequências da presença das árvores nas diversas funções do espaço público. Não se planta uma árvore que deixa cair substâncias que mancham um carro em zonas de estacionamento. Não se planta uma árvore com frutos que caindo no chão o tornam escorregadio em zonas de peões, não se planta uma árvore que lança sementes para o ar junto de habitações. Não se planta uma árvore junto de um candeeiro sabendo que quando crescer o vai cobrir.

Também a manutenção do arvoredo deve ser atempada e adequadamente efectuada de modo a assegurar o bom estado fitossanitário das espécies, promover um desenvolvimento compatível com o espaço onde se encontram e garantir a segurança de pessoas e bens.

Importa saber planear a organização do espaço público em que as árvores devem ser aliadas do conforto dos cidadãos, evitando, nas opções que são tomadas quanto aos locais e espécies seleccionadas, que sejam sentidas como um transtorno na vida das cidades.



António Prôa
Vereador na Câmara Municipal de Lisboa





(publicado no jornal Oje)

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