No dia em que o Governo assume a intenção de vir a
desenvolver na actual Base Aérea do Montijo um aeroporto complementar ao
aeroporto Humberto Delgado, importa afirmar que tal intenção deveria ter sido
precedida de uma discussão e análise participadas pelas autarquias sobre o
impacto desta infra-estrutura na cidade e na região de Lisboa.
A expansão da operação do aeroporto de Lisboa no Montijo
representa a alteração mais relevante dos últimos anos e terá fortes
implicações para a cidade de Lisboa na economia mas também na mobilidade e nas
infra-estruturas de transportes. Torna-se, por isso, incompreensível que a
Câmara Municipal de Lisboa não tivesse, antecipadamente, discutido e
aprofundado as consequências deste cenário no contexto de um diálogo suportado
tecnicamente e que envolvesse os vereadores.
A operação do aeroporto no Montijo significará, de acordo
com as expectativas anunciadas, uma deslocação diária de dezenas de milhar de
pessoas entre as duas margens. Este fortíssimo movimento terá implicará uma
forte carga nas estruturas de travessia do Tejo, seja nas pontes e respectivos
acessos rodoviários, seja nos transportes fluviais e nos transportes públicos
da cidade. Por outro lado, a articulação com o aeroporto Humberto Delgado, bem
como com outras infra-estruturas de transportes como os caminhos de ferro, o
metropolitano ou o terminal de cruzeiros será essencial.
Importa salvaguardar que a solução de expansão da capacidade
aeroportuária de Lisboa para o Montijo será acompanhada e suportada pelos
investimentos necessários na criação de uma solução de travessia fluvial, no
desenvolvimento e adequação da rede de metropolitano na cidade, nas adaptações
da estrutura rodoviária e na articulação entre os diversos meios de transporte
público. Tais investimentos terão, necessariamente, de fazer parte da equação
dos custos da construção do novo aeroporto.
Importa pois assegurar que, no mais curto espaço de tempo,
até porque tal já devia ter acontecido, a Câmara Municipal de Lisboa, na posse
dos dados necessários, possa discutir e pronunciar-se sobre as implicações do
novo aeroporto do Montijo. Por isso mesmo, na última reunião de Câmara
efectuada tive oportunidade de solicitar ao senhor presidente da Câmara a
realização para breve de uma reunião exclusivamente dedicada a este assunto. A
assinatura do memorando de entendimento entre o Governo e a ANA – Aeroportos de
Portugal sobre esta matéria torna urgente que a Câmara Municipal de Lisboa se
possa pronunciar e intervir sobre o desenvolvimento deste processo.
A possibilidade de expansão da actividade aeroportuária de
Lisboa garantindo a permanência do funcionamento do aeroporto na Portela é uma
boa notícia para a economia e para o turismo da cidade e da região de Lisboa.
No entanto, importa assegurar que esta possibilidade de desenvolvimento seja
acompanhada pelos adequados investimentos complementares de forma a não
significar uma diminuição da qualidade de vida na cidade de Lisboa,
nomeadamente em matéria de transportes e de mobilidade. O desenvolvimento desta
solução só será positiva se forem salvaguardados os interesses dos lisboetas.
António Prôa
(publicado no jornal Oje)
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