Esmifrar (*) - Explorar
(o dinheiro de outrem), abusivamente; sugar (dinheiro) habilidosamente
2015 ficará marcado em Lisboa como o ano em que se verificou
o mais brutal aumento de taxas e tarifas pagas pelos lisboetas de que há
memória.
Em 2015 foram aplicadas as novas taxas e tarifas resultantes
de deliberações da Câmara Municipal. Por proposta da actual maioria socialista
foi criada uma nova taxa de protecção civil, bem como criada uma nova tarifa de
saneamento e a tarifa de resíduos.
A taxa de protecção civil foi criada sem que tivesse sido
justificada a sua necessidade. Acresce que são poucos os municípios que a
praticam. As novas tarifas de saneamento e resíduos resultam de uma obrigação
legal definida há vários anos, cuja fixação em concreto depende dos municípios
e Lisboa terá sido o último município a aplicar, abdicando da possibilidade de
as actualizar progressivamente.
Hoje entende-se melhor o facto de a Câmara de Lisboa ter
adiado até ao limite a aplicação dos novos tarifários para o saneamento e
resíduos: o executivo socialista quis esconder o brutal aumento de tarifas até
às eleições autárquicas de 2013, preferindo sacrificar os lisboetas ao seu
interesse eleitoral.
A falta de coragem política do actual executivo, neste caso,
revelou-se em três dimensões. Por um lado, no adiamento em função dos seus
interesses optando por uma alteração brusca. Em segundo lugar, escudando-se
numa imposição que imputa ao anterior Governo através de novos poderes da
entidade reguladora quando, na verdade, tal resulta de uma obrigação legal da
autoria de um governo socialista. Finalmente, a definição dos valores obedece a
critérios definidos por lei, nomeadamente no que diz respeito à recuperação
integral de custos. Ora, os custos dependem da eficiência dos sistemas e esta
eficiência depende da acção dos municípios. Ou seja, a dimensão dos aumentos
resulta da responsabilidade do município.
Agora que começam a ser conhecidos os primeiros números da
execução financeira da Câmara de Lisboa, é possível concretizar o impacto do
brutal aumento de taxas e tarifas sobre os lisboetas.
Considerando apenas as alterações de taxas e tarifas com
impacto directo nos lisboetas (protecção civil, saneamento e resíduos),
verifica-se uma receita de 46,1 milhões de euros em 2014 que aumentou para 89,7
milhões de euros em 2015. Significa, de um ano para o outro, um aumento de 95%
de encargos para as famílias lisboetas. Para se ter uma noção mais próxima
deste brutal aumento, cada lisboeta pagava em média, em 2014, 84€ e passou a
pagar, desde 2015, 164€.
Outros dados já conhecidos chocam mais ainda. Poderia ser
que este sacrifício exigido aos lisboetas tivesse tradução na melhoria do
investimento na cidade, podia ser uma necessidade para fazer face a
investimentos inadiáveis e urgentes. Mas não, a execução do investimento em
2015 não chegou a 50%. Ou seja: a Câmara não conseguiu concretizar sequer metade
dos investimentos programados.
Por outro lado, verifica-se um saldo de execução de 124
milhões de euros. Ou seja, uma receita arrecadada, não utilizada e que
transitará para 2016. Trata-se de um valor sem paralelo na história financeira
do município que tem estes valores sempre da ordem dos 20 milhões em anos
anteriores. Em 2016, ano anterior a eleições, o executivo socialista terá
garantido um saldo com abundancia para utilizar…
O actual executivo socialista termina o mandato tal como
iniciou: sacrificando os lisboetas aos seus interesses, querendo ganhar
eleições a qualquer custo. Um custo demasiado elevado para os lisboetas.
(*)esmifrar in Dicionário da Língua Portuguesa, Porto
Editora
António Prôa
Vereador na Câmara
Municipal de Lisboa
(publicado no jornal Oje)
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