Com efeito, o comércio cumpre um papel vital na cidade enquanto polo de desenvolvimento económico, gerador de emprego, factor de coesão social e elemento de valorização cultural.
Historicamente, o comércio teve sempre um papel central no desenvolvimento da cidade, chegando mesmo a ser um centro comercial à escala europeia.
Por outro lado, o comércio constitui factor de diferenciação e, por isso mesmo, de identidade da cidade num mundo crescentemente global e competitivo. A atractividade de Lisboa depende também de elementos distintivos que a posicionem como uma realidade ímpar.
A iniciativa de preservação do comércio tradicional em Lisboa reuniu consenso na Câmara Municipal de Lisboa num sinal importante de compromisso partidário transversal. Para além deste consenso, é importante sublinhar a adesão e o compromisso dos comerciantes através das associações representativas.
O sucesso da aposta no comércio tradicional de Lisboa é complexo e depende de uma multiplicidade de factores nos quais as medidas agora tomadas são parte relevante. No entanto é fundamental ter consciência de que muito mais deverá ser feito para que a aposta seja ganha. Importa desenvolver uma estratégia de promoção do comércio integrada numa visão global da cidade que passa por vectores como o turismo, o desenvolvimento económico, a cultura e o urbanismo.
A Câmara Municipal de Lisboa pode e deve cumprir um papel de motor de acções nas quais é parte decisiva de modo directo ou em articulação com outros agentes públicos e deve ainda ser indutora do desenvolvimento de iniciativas complementares por parte de outros parceiros desta estratégia.
A Câmara Municipal de Lisboa, para além da iniciativa agora tomada com o programa “lojas com história”, deverá ser coerente no planeamento e gestão urbanística criando condições para a preservação deste tipo de comércio e da sua localização. Em articulação com o Turismo de Lisboa deverá criar roteiros para a promoção das lojas históricas. Do ponto de vista cultural importa preservar a identidade e genuinidade deste tipo de comércio. Na óptica do desenvolvimento económico deverá promover a competitividade do comércio tradicional.
Por outro lado, a câmara de Lisboa, através de uma moção aprovada por unanimidade, manifestou já a intenção de propor alterações à legislação relacionada com o arrendamento urbano no sentido de criar condições mais favoráveis à preservação do comércio tradicional de Lisboa. Esta é também uma dimensão importante do problema.
Por fim, os comerciantes – principais agentes desta estratégia, directamente e através das associações representativas, devem comprometer-se com esta estratégia de defesa do comércio tradicional, aprofundando a cooperação e modernizando-se.
Lisboa vive um momento de transformação induzida pela pressão turística e pela renovação urbana que se conjuga com novos hábitos de consumo a que não é indiferente o excesso de centros comerciais e hipermercados. O actual momento poderá ser a derradeira oportunidade para a preservação do comércio tradicional. Uma oportunidade para preservar a identidade da cidade de Lisboa. Uma oportunidade que não pode ser desperdiçada.
António Prôa
Vereador na Câmara Municipal de Lisboa
(publicado no jornal Oje)