sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Marcelo presidente

A eleição do Professor Marcelo Rebelo de Sousa para presidente da república constitui uma oportunidade para Portugal se reencontrar com valores e práticas centradas no respeito pelas pessoas.
O primeiro sinal de mudança foi a decisão sobre a candidatura. Marcelo Rebelo de Sousa decidiu sem esperar um apoio e menos ainda um compromisso partidário. Uma decisão que embora respeite o sentido individual e autónomo de uma candidatura presidencial não corresponde a uma prática verificada no passado recente em relação a candidatos mais próximos dos principais partidos. Esta atitude correspondeu “apenas” correcto entendimento da candidatura e da função mas que estava “esquecido”…

Seguiu-se o período de pré-campanha e campanha eleitoral. Também aqui o recém-eleito presidente inovou. Por um lado, não recorrendo as máquinas partidárias, mas sobretudo porque manteve um estilo “porta-a-porta” do contacto directo com as pessoas, recusando os grandes comícios ou arruadas – não por recear a mobilização, mas porque quis fazer diferente, talvez recorrendo às memórias da sua própria experiencia partidária.

A ausência de cartazes foi outra marca da campanha de Marcelo Rebelo de Sousa. Embora esteja por demonstrar a eficácia destes suportes na actualidade, no pressuposto de ser útil para ganhar notoriedade, esse requisito estava adquirido. Os muitos anos de presença regular na televisão, sempre com elevadas audiências, garantiram a notoriedade. Neste aspecto, vale a pena reflectir sobre a importância (por vezes dependência) da presença mediática no sucesso político.

No caso de Marcelo Rebelo de Sousa, se é certo que a presença televisiva lhe garantiu notoriedade, vale a pena fazer uma abordagem séria sobre o efeito televisivo neste caso. Porque outra consequência da frequente presença televisiva é a exposição e a possibilidade de escrutínio sobre o que disse, o que defendeu, o que propôs. A exposição significa tornar-se um alvo mais fácil. No entanto, esta parece ter sido uma prova superada.

Outro aspecto que marca esta campanha e certamente o futuro foi a recusa de Marcelo Rebelo de Sousa quanto ao confronto mais aceso com os adversários. Uma campanha serena, afirmando princípios e valores mas recusando a crispação, corresponde ao desejo de tranquilidade dos portugueses.

Também os compromissos de cooperação com o Governo e promoção de entendimentos entre os partidos correspondem à marca do próximo presidente. A autoridade que advém da eleição tão expressiva, mas sobretudo a sua natural capacidade de diálogo, aliada a circunstâncias específicas do actual cenário político-partidário, podem (e devem) marcar uma nova era na política portuguesa e no relacionamento e cooperação entre os protagonistas políticos.

Marcelo Rebelo de Sousa recupera para a política e para o país valores fundadores da nossa civilização e cultura. Os valores humanistas cristãos de respeito pela pessoa, de tolerância e respeito pelas diferenças, de respeito pelo trabalho, de mais solidariedade social. Será um tempo de exploração e promoção da relação entre as pessoas em função do bem comum e não de interesses individuais.

Portugal está perante a oportunidade de regressar a um tempo de construção de compromissos e de esperança no futuro. Cabe aos protagonistas políticos saberem ler os sinais deste novo tempo e adaptarem-se apostando no mérito e qualificando a prática política.


António Prôa

Vereador na Câmara Municipal de Lisboa






(publicado no jornal Oje)

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