A eleição do Professor Marcelo Rebelo de Sousa para
presidente da república constitui uma oportunidade para Portugal se reencontrar
com valores e práticas centradas no respeito pelas pessoas.
O primeiro sinal de mudança foi a decisão sobre a
candidatura. Marcelo Rebelo de Sousa decidiu sem esperar um apoio e menos ainda
um compromisso partidário. Uma decisão que embora respeite o sentido individual
e autónomo de uma candidatura presidencial não corresponde a uma prática
verificada no passado recente em relação a candidatos mais próximos dos
principais partidos. Esta atitude correspondeu “apenas” correcto entendimento
da candidatura e da função mas que estava “esquecido”…
Seguiu-se o período de pré-campanha e campanha eleitoral.
Também aqui o recém-eleito presidente inovou. Por um lado, não recorrendo as
máquinas partidárias, mas sobretudo porque manteve um estilo “porta-a-porta” do
contacto directo com as pessoas, recusando os grandes comícios ou arruadas –
não por recear a mobilização, mas porque quis fazer diferente, talvez
recorrendo às memórias da sua própria experiencia partidária.
A ausência de cartazes foi outra marca da campanha de
Marcelo Rebelo de Sousa. Embora esteja por demonstrar a eficácia destes
suportes na actualidade, no pressuposto de ser útil para ganhar notoriedade, esse
requisito estava adquirido. Os muitos anos de presença regular na televisão,
sempre com elevadas audiências, garantiram a notoriedade. Neste aspecto, vale a
pena reflectir sobre a importância (por vezes dependência) da presença
mediática no sucesso político.
No caso de Marcelo Rebelo de Sousa, se é certo que a
presença televisiva lhe garantiu notoriedade, vale a pena fazer uma abordagem
séria sobre o efeito televisivo neste caso. Porque outra consequência da
frequente presença televisiva é a exposição e a possibilidade de escrutínio
sobre o que disse, o que defendeu, o que propôs. A exposição significa
tornar-se um alvo mais fácil. No entanto, esta parece ter sido uma prova
superada.
Outro aspecto que marca esta campanha e certamente o futuro
foi a recusa de Marcelo Rebelo de Sousa quanto ao confronto mais aceso com os
adversários. Uma campanha serena, afirmando princípios e valores mas recusando
a crispação, corresponde ao desejo de tranquilidade dos portugueses.
Também os compromissos de cooperação com o Governo e
promoção de entendimentos entre os partidos correspondem à marca do próximo
presidente. A autoridade que advém da eleição tão expressiva, mas sobretudo a
sua natural capacidade de diálogo, aliada a circunstâncias específicas do
actual cenário político-partidário, podem (e devem) marcar uma nova era na
política portuguesa e no relacionamento e cooperação entre os protagonistas
políticos.
Marcelo Rebelo de Sousa recupera para a política e para o
país valores fundadores da nossa civilização e cultura. Os valores humanistas
cristãos de respeito pela pessoa, de tolerância e respeito pelas diferenças, de
respeito pelo trabalho, de mais solidariedade social. Será um tempo de
exploração e promoção da relação entre as pessoas em função do bem comum e não
de interesses individuais.
Portugal está perante a oportunidade de regressar a um tempo
de construção de compromissos e de esperança no futuro. Cabe aos protagonistas
políticos saberem ler os sinais deste novo tempo e adaptarem-se apostando no
mérito e qualificando a prática política.
António Prôa
Vereador na Câmara
Municipal de Lisboa
(publicado no jornal Oje)
Nenhum comentário:
Postar um comentário