A proposta aprovada evidencia o valor excepcional do bem a classificar identificado através do cumprimento dos critérios de “Obra-prima”, “Intercâmbio de influências”, “Testemunho impar de tradição cultural”, “Exemplo excepcional de conjunto arquitectónico ou tecnológico” e “Imaterial”, reconhece como momentos decisivos na evolução da cidade os Descobrimentos e o terramoto – momentos em que a cidade se actualizou adoptando correntes de pensamento inovadoras e delimita o território que envolve a Baixa, bairros históricos, alguns outros núcleos, bem como a frente ribeirinha.
Lamentavelmente, a proposta passou despercebida, abafada pela discussão sobre a Segunda Circular.
A classificação de Lisboa como Património Mundial reveste-se de uma enorme importância simbólica e estratégica para a cidade e para o país.
A intenção de candidatar Lisboa a património mundial da UNESCO é materializada em 2005 através da aprovação em câmara e por unanimidade do dossier de candidatura da Baixa Pombalina a Património Cultural da Humanidade.
Passaram dez anos e agora é aprovada a candidatura de Lisboa a Património Mundial da UNESCO, após actualização e reformulação. Demasiado tempo. Ainda assim, trata-se de uma decisão muito importante.
A continuidade do projecto de candidatura de Lisboa a Património Mundial, atravessando vários executivos com composições políticas muito diferentes, bem como a unanimidade na deliberação, são exemplos de que é possível divergir mas também convergir quando se tratam de temas verdadeiramente estruturantes.
Enquanto no país se assiste à tomada de decisões que provocam instabilidade como é exemplo a educação e se vive um clima de crispação política, neste caso, Lisboa é exemplo de respeito pelo trabalho efectuado em executivos anteriores e também exemplo da construção de consensos.
Estrategicamente, esta proposta reveste-se também de grande importância para o futuro da cidade. Trata-se do reconhecimento mundial da importância de Lisboa no passado e afirmação no presente. Também do ponto de vista económico, este verdadeiro “upgrade” potenciará a sustentabilidade da atractividade turística e representa um passo importante para a qualificação da cidade. Por fim, do ponto de vista da preservação e requalificação do centro histórico, esta classificação representa uma salvaguarda nas intervenções, impondo regras mais exigentes.
Num contexto em que as cidades ganham cada vez mais destaque no plano mundial. A qualificação de Lisboa como património mundial potencia a competitividade de Lisboa no plano internacional.
Ainda faltam cumprir algumas etapas para a concretização da classificação de Lisboa pela UNESCO, no entanto, a proposta de candidatura aprovada pela Câmara Municipal de Lisboa merecia um relevo que até agora não se verificou.
António Prôa
Vereador na Câmara Municipal de Lisboa
(publicado no jornal Oje)
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