segunda-feira, 5 de junho de 2017

Turismo: como tratar a galinha dos ovos de ouro?

Há cerca de 10 anos procurávamos estratégias para atrair turistas. Hoje debate-se se há excesso de turistas. Esta circunstância transmite bem a ideia da evolução significativa do turismo e do seu impacto no país e particularmente em Lisboa.

Se até há poucos anos o turismo era uma aspiração e nos intitulávamos como um povo que recebe com simpatia quem nos visita (e, como tal, somos reconhecidos), hoje começa a verificar-se alguma saturação (diria, até, aversão) aos turistas. Em Lisboa este sentimento tem vindo a aumentar e deve ser motivo de reflexão.

As causas para o boom turístico verificado em Portugal são muito diversas, algumas resultantes de circunstâncias internacionais fortuitas, outras devido a condições naturais do nosso país, outras ainda devido ao clima económico e à estratégia e acção da promoção turística nacional.

Lisboa, o Porto e também outras cidades são hoje palco de um movimento de turistas intenso ao longo de todo o ano e um pouco por todo o lado, promovendo a animação nas ruas e sustentando o dinamismo da reabilitação urbana, da oferta hoteleira e do comércio.

O turismo tem hoje um peso decisivo na economia nacional, com a criação de emprego, e na geração de riqueza. O turismo é hoje uma espécie de “galinha dos ovos de ouro” da economia portuguesa. Então, importa que não se mate a “galinha”…

As vantagens económicas do crescimento turístico são incontornáveis. Mas nem tudo têm sido virtudes. O impacto do turismo nas cidades, em particular em Lisboa, tem provocado problemas na qualidade de vida não só de quem vive, como até de quem trabalha ou estuda na capital.

Lisboa assiste hoje a uma convivência difícil com o turismo. O excesso de licenciamento de hotéis em algumas zonas da cidade em detrimento de habitação, o impacto negativo do alojamento local no mercado de arrendamento ou no descanso de moradores em bairros históricos, os problemas no trânsito e no estacionamento provocado pelos “tuk-tuk” e afins, os elétricos cheios sem capacidade de resposta ou a proliferação de lojas de recuerdos criando uma espécie de monocultura intensiva do comércio são alguns dos fenómenos negativos do turismo que se verificam em Lisboa.

Na verdade, os inconvenientes apontados à actividade turística em Lisboa não são um problema inevitável do turismo ou dos turistas. Mas, por vezes, parece que Lisboa ou é para os lisboetas ou é para os turistas e que este executivo camarário escolheu os turistas.

Lisboa, ao contrário de outras cidades portuguesas e no mundo, não tem sabido adaptar-se aos impactos do turismo. A Câmara Municipal de Lisboa tem tido uma atitude passiva e absolutamente liberal na gestão do turismo na cidade. A ausência de uma qualquer intervenção no sentido de regular as diversas actividades com o objectivo de moderar os impactos e de salvaguardar a desejável convivência entre turistas e quem vive e trabalha em Lisboa permitiu o crescimento de um sentimento de aversão aos turistas que mais não é do que a reacção aos aspectos negativos que o actual executivo não soube evitar.

Tratar a “galinha dos ovos de ouro” implica assegurar o equilíbrio entre a actividade turística e quem vive e trabalha em Lisboa encontrando sinergias que favoreçam ambas as condições. Quem vive em Lisboa tem de sentir que o turismo é uma vantagem e não um prejuízo. Importa regular e equilibrar.

António Prôa


texto publicado no jornal Sol

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