segunda-feira, 12 de junho de 2017

O trânsito está um inferno e não tinha de ser assim

As obras na cidade Lisboa tiveram uma virtude: Lisboa está mais bonita, mais agradável à vista. As intervenções no espaço público convidam a passear, a andar de bicicleta, de um modo geral a usufruir do espaço público. Isso é bom! Mas é igualmente evidente que cada intervenção implicou dificuldades acrescidas para a circulação de automóveis e de transportes públicos e menos lugares de estacionamento. Algumas ruas estão mais bonitas, mas circular na cidade tornou-se um inferno a toda a hora e por toda a cidade.

É um facto que os automóveis são uma fonte importante de emissões poluentes para a atmosfera e de consumo de energia de fonte não renovável. Mas o automóvel é uma ferramenta fundamental para as famílias e para as empresas. Impor violentamente dificuldades em circular ou em estacionar sem cuidar de garantir alternativas é uma imposição injusta e insuportável.

As intervenções na qualificação do espaço público, ao invés de promoverem a qualidade de vida estão a piorar a vida dos lisboetas. Quando as condições meteorológicas permitem, ao fim de semana, é bom passear ou andar de bicicleta na Lisboa renovada. Os turistas que nos visitam também gostam. Mas foi esquecido quem vive em Lisboa e já não encontra estacionamento, quem precisa de utilizar o automóvel para transportar crianças à escola ou idosos a unidades de saúde ou quem tem de trabalhar utilizando o automóvel. Para todos estes, as obras de Lisboa significaram um desrespeito pelas suas vidas durante, pelo menos, cinco dias da semana.

Reduzir a circulação de automóveis na cidade não se faz tornando a vida das pessoas num inferno.
Em primeiro lugar, faz-se evitando a entrada de automóveis na cidade. Quanto a esta matéria, o que está previsto é a criação de cerca de 4000 lugares de estacionamento em parques dissuasores nos próximos anos. Se considerarmos que diariamente entram cerca de 400.000 automóveis, então concluímos que se resolve 1% do problema. Por outro lado, impõe-se criar uma rede metropolitana de transportes eficaz. Sobre este aspecto, basta dizer que não existe sequer articulação quanto mais qualquer início de concretização de alguma acção.

Em segundo lugar, importa promover a utilização de transportes públicos na cidade promovendo a eficácia e o aumento da oferta de transportes. Neste aspecto, de acordo com o actual Presidente da Câmara, a municipalização da Carris seria uma peça essencial para alcançar estes objectivos. No entanto, o plano estratégico da Carris recentemente conhecido refere que só haverá mais autocarros a circular daqui a dois ou três anos. Já em relação à eficácia da circulação, a tendência será piorar, acompanhando as crescentes dificuldades de circulação na cidade. Temos também o metropolitano como peça-chave. No entanto, para além do inconveniente de a solução da Carris não assegurar a articulação desejável, o actual serviço do metro é péssimo e a expansão da rede só será uma realidade daqui a cinco anos.

Em Lisboa começou-se pelo fim: primeiro, forçaram-se restrições à circulação automóvel e, depois, daqui a uns anos, criam-se alternativas. Entretanto, teremos um inferno todos os dias.
É tão fácil quanto irresponsável transtornar a vida das pessoas. As obras realizadas no espaço público em Lisboa demonstram-no. As pessoas sentem todos os dias. Não tinha de ser assim: bastava fazer as coisas pela ordem certa e com respeito pelas pessoas.

António Prôa


texto publicado no jornal Sol

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