A perda de residentes parece notar-se especialmente na zona central da cidade – na Baixa e bairros históricos. Ora é precisamente nestas zonas da cidade que se verifica o mais significativo aumento de hotéis, “hostels” e outros “alojamentos locais”, todos dirigidos aos turistas.
Também o fenómeno da reabilitação urbana – que beneficiou de alterações legislativas e de incentivos do próprio município, parece ter sido dominado pela oferta de alojamentos turísticos. Com efeito, parte significativa da reabilitação de edifícios ou fracções que se observa, especialmente na zona central da cidade, destina-se à instalação de hotéis ou recuperação de apartamentos destinados à oferta turística.
Lisboa tem sido alvo de uma procura turística internacional crescente. Ao percorrer a Baixa e os bairros históricos constata-se o fervor turístico, desde logo pelo número de turistas, bem como pela oferta de restauração, lojas de “souvenirs” ou com os “tuk-tuk” que invadiram as ruas.
Existe uma relação directa óbvia entre a perda de população no centro da cidade, a ocupação de áreas outrora habitacionais por alojamentos turísticos e o aumento da afluência turística de Lisboa. Não aceitar este facto é não querer ou ser capaz de lidar com esta questão.
Lisboa quer ou não ser um destino turístico? Os lisboetas beneficiam com a afluência turística à cidade? Que turismo deve ser incentivado? Deve ou não a cidade condicionar a procura turística através da oferta?
Continua por fazer, de modo participado pelos cidadãos, uma reflexão sobre o impacto do turismo no desenvolvimento da cidade. Com excepção da Associação de Turismo de Lisboa – que tem há muitos anos uma estratégia para o turismo da cidade, todos os outros agentes da cidade foram surpreendidos pelo fenómeno turístico.
Lisboa não deve assistir de forma passiva ao desenvolvimento turístico na cidade. O turismo não deve ser encarado como uma inevitabilidade ou algo que se desenvolve sem condições.
O turismo pode ser factor de desenvolvimento sustentado de Lisboa. No entanto, tal deve ser antecedido pela definição de uma estratégia necessariamente participada e assumida por todos.
A actividade turística deve ser regulada e condicionada ao interesse da cidade. E a cidade é em primeiro lugar a sua população residente. Não é sustentável o turismo em Lisboa se procurar turistas mas expulsar os seus residentes. Não será sustentável o turismo em Lisboa se os lisboetas se tornarem hostis aos turistas.
António Prôa
Vereador na Câmara Municipal de Lisboa
(publicado no jornal Oje)