O ano de 2012 ficará marcado, em Lisboa, por dois processos de convergência entre os maiores partidos representados na autarquia sobre questões estruturais para a cidade.
Primeiro na reorganização administrativa da cidade, e mais recentemente na definição do pacote fiscal a aplicar aos lisboetas, PSD e PS chegaram a acordo para a viabilização de propostas consensuais.
A reforma de Lisboa foi exemplar na construção do processo, na sua condução e concretização. Tal circunstância só se tornou possível graças ao compromisso entre os dois principais partidos representados nos órgãos do município – PSD e PS – que entenderam que o carácter estrutural destas alterações tornava importante um entendimento.
O PSD, sendo oposição em Lisboa no presente momento, mas defendendo a necessidade de uma reorganização da cidade, ao invés de se colocar numa posição de mero obstáculo em função de eventuais interesses imediatos, assumiu a sua responsabilidade de partido com ambição de governar a cidade e envolveu-se numa solução que beneficiará a cidade.
O sucesso do processo da reforma de Lisboa assentou na vontade comum de reorganizar as freguesias, na construção de uma sólida base de confiança e na capacidade de efectuar cedências para chegar a um consenso.
E no país?
Portugal vive um dos piores momentos da sua história com graves dificuldades financeiras e não menos pesadas repercussões económicas e sociais. Tudo isto, num quadro de fundadas dúvidas sobre a bondade de algumas opções no âmbito da União Europeia.
Os portugueses vivem muitas incertezas sobre o futuro e necessitam de sentir confiança, e eficácia nos partidos e nos políticos. Como nunca, os cidadãos estão cansados, e crescentemente intolerantes, perante discordâncias políticas estéreis, posicionamentos meramente tácticos ou atitudes egoístas.
Mais do que nunca, os portugueses exigem, e o país necessita, de serenidade e coragem dos políticos para assumirem compromissos nas reformas estruturais de que o país carece num contrato de regime para além dos curtos ciclos eleitorais.
Reformas estruturais como as que dizem respeito ao funcionamento do Poder Local – base da relação dos cidadãos com o Estado – devem ser concretizadas com uma base de apoio político alargado.
Na ambiciosa proposta de Reforma da Administração Local apresentada pelo Governo, tem sobressaído a questão da diminuição do numero de freguesias que não logrou o compromisso do PS não obstante ter sido o Governo anterior a comprometer-se com a “troika” em relação a esta concretização.
Mas a reforma apresentada é muito mais do que apenas a alteração das freguesias. Há ainda um longo caminho a percorrer com alterações em diversos sectores do Poder Local.
As reformas a empreender, mas sobretudo o país, ganharão com a concretização de entendimentos que permitam consensualizar as alterações. É isso que os portugueses esperam. É isso que o país necessita. É assim que deve ser feito.
texto publicado na edição de 12 de Dezembro de 2012 no jornal Público