segunda-feira, 16 de maio de 2011

Presidência móvel

Depois de vários anúncios, e de vários adiamentos, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa mudou o seu gabinete para o Intendente.

Esta operação do Intendente concentra a atenção do presidente da Câmara que impôs também uma forte concentração de recursos. Desde logo a escolha do seu gabinete: ao invés de se instalar num dos vários edifícios do município na zona, arrenda um prédio para se instalar com uma equipa de apoio com mais de duas dezenas de pessoas. Faz um contrato por dez anos quando pretende lá ficar apenas durante dois anos e paga, adiantado a totalidade do valor: 670.000 euros. Depois os vários milhões de euros disponíveis de um financiamento europeu que se destinava à Mouraria mas que habilmente foram desviados para aquela zona (veremos o que sobra para a Mouraria propriamente dita).

Não discuto a popularidade desta iniciativa junto da maioria da população local. Quem não gostaria de ter o presidente instalado no seu bairro com a promessa da resolução dos problemas urbanos locais. Mas será que é esta a forma correcta de gerir uma cidade? E o resto de Lisboa? Será que António Costa só resolve problemas mudando-se para cima deles?

E depois temos a questão dos critérios para avaliar o sucesso da operação. É certo que a requalificação urbana vai ser bem sucedida. Havendo dinheiro, não é difícil. Dentro de dois anos haverá alguns prédios recuperados, ruas mais limpas e arranjadas e talvez até esplanadas. Mas o problema do Intendente é sobretudo de ordem social. Insegurança, prostituição e droga são os problemas complexos de resolver. E quanto a esses ainda não foi assumida qualquer meta que possa medir o sucesso desta grande operação de marketing.

A última vez que um socialista prometeu resolver um grande problema de ordem social foi no Casal Ventoso e o autor foi João Soares. Nessa altura, na década de 90, o bairro foi demolido, mas o problema do tráfico e consumo de droga ali existente não foi resolvido. Antes se espalhou pelas zonas próximas.


texto publicado na edição de Maio do Jornal de Lisboa

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